quinta-feira, 29 de setembro de 2011

55 CENTS

Estou no escritório. Tenho dez euros no bolso, e o meu café já está pago.
Um amigo com quem mais uma vez conversei sobre um projecto comum, teve
a gentileza de me oferecer a bica. E não uma bica qualquer, algo mais rebuscado.
Um abatanado.
Um café normal, mas em chávena grande, e a que o dono do bar acrescenta
mais cinco cêntimos de água. O espaço, onde diariamente me instalo e a que
pomposamente chamo de escritório, tem um serviço “cinco estrelas”. Internet,
energia eléctrica, serviço à mesa, e horas a fio de volta do meu portátil, à
procura de tudo e de nada. É assim como um part-time. Tudo pelo preço de um
café, e à porta de casa, onde a minha mãe terá ficado a preparar algo para o
almoço, depois de me ter dado os tais dez euros que tenho no bolso, e que me
fazem sentir um tipo cheio de poder. É uma festa ter dez euros, ele é cigarros,
ele é café, ele é telemóvel carregado. Enquanto dura, estou no “escritório”.
Quem me quiser ver, e hoje são muito poucos, sabe que por aqui estou.
E as minhas horas a despacho são muito violentas. Duas a
três respostas para anúncios de emprego, uma boa meia dúzia de candidaturas
expontâneas, leitura voraz de notícias, criação de ideias para projectos de
televisão, limpar a caixa de e-mails, a maioria é spam e claro, actualizar
a página do facebook. Tudo isto em três a quatro horas. Uma longa manhã,
que geralmente transporta a hora de almoço para tardias horas em que já não
tenho apetite para engolir a massa que tão generosamente minha mãe deixou
preparada. E como eu gosto de massa. São quase duas da tarde e a história
repete-se de segunda a sexta. Sim, porque eu não sou um free-lancer
qualquer. Ao sábado e domingo, estou mais em casa, onde não tenho net, ou
com a minha namorada quando ela tem paciência para me suportar, e que tem
sido por estes dias o meu porto de abrigo. A minha mãe dá-me cama, mesa e
roupa lavada, algo que lhe é muito doloroso, porque se sente cansada e
também sente que não o mereço. A minha namorada sente, vá lá
perceber-se porquê, que eu a faço feliz. Eu tento, mas dou tão pouco.
A não ser o que alguém com cinquenta anos de idade, que terá deitado tudo a
perder, desempregado, esquecido e com perspectivas reduzidas, tem.
O motor, o meu motor e que diariamente me empurra da cama para fora.
A experiência, o conhecimento, a sabedoria. Tão fundamentais para mim, tão
irrelevantes para quem não está nem aí.
Hasta e boa sorte!

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